Alguns meses atrás, um dos meus pacientes – um homem na casa dos 50 anos – me disse: “Estou esgotado. Preciso procurar outro emprego, só estou lá fazendo o mínimo necessário para ir levando”. Semanas depois, ele me disse que tinha sido demitido. “Como você está se sentindo?”, perguntei. “Surpreendentemente bem”, ele respondeu, com um suspiro. “Eu deveria ter desistido anos atrás”.

Muitos dos meus pacientes me pedem para ajudá-los a parar – geralmente parar algo pouco saudável, como fumar ou apostar em jogos de azar. Mas alguns me pedem para ajudá-los a abandonar um emprego, um relacionamento ou um projeto de longo prazo – coisas que muitos de nós valorizamos.

Muitas pessoas pensam – e talvez você também pense – que desistir reflete preguiça, fracasso ou incompetência. Desde crianças, aprendemos que “ninguém gosta de quem desiste”.

Mas meu trabalho me ensinou que desistir, em si, não é o problema. E o quietly quitting – ou seja, desistir silenciosamente, fazer o mínimo necessário para ir levando, como meu paciente vinha fazendo – pode ser uma forma de evitar a realidade. Saber como e quando desistir é um superpoder que pode beneficiar sua saúde mental.

Perseverar a todo custo pode ser prejudicial

Desistir é um comportamento humano normal – e saudável. Trinta por cento dos estudantes que ingressaram na faculdade em 2011 mudaram de curso pelo menos uma vez nos primeiros três anos, de acordo com uma pesquisa do Centro Nacional de Estatísticas da Educação. E, em 2023, mais de 3 milhões de trabalhadores norte-americanos pediram demissão a cada mês.

Mas, embora as pessoas consigam desistir de uma coisa, elas às vezes têm dificuldade de desistir de outras. Além disso, desistir antes da hora pode levar a uma sensação de arrependimento.

Perseverar a todo custo, porém, pode inibir nossa capacidade de adaptação ou de crescer e explorar novas oportunidades. E, às vezes, optar por não desistir pode dificultar que você alcance seus objetivos. Por exemplo: ficar em um relacionamento tóxico pode atrapalhar seus planos de começar uma família.

Quando você deve desistir

Saber quando desistir – seja de uma start-up ou de um comitê da sua igreja – é uma decisão pessoal. Mas esses sintomas podem ajudar você a decidir se está na hora de desistir.

  • Ansiedade (sensação de tensão ou inquietude por pelo menos seis meses)
  • Burnout (exaustão física e emocional; cinismo em relação à vida na maioria dos dias)
  • Depressão (sentir-se inútil ou incapaz, alterações no sono ou no apetite, pensamentos suicidas por pelo menos duas semanas)

O estresse emocional é um dos principais fatores que levam a algumas das maiores causas de morte nos Estados Unidos, como doença arterial coronariana, câncer e suicídio. Pense nos benefícios de perseverar e nos riscos para a saúde decorrentes do estresse que vêm com a perseverança para decidir se está na hora de mudar de rumo.

E, se você estiver apresentando sintomas de depressão, ansiedade ou burnout, um profissional de saúde mental também pode ajudar.

Como desistir de maneira inteligente

Desistir de maneira inteligente significa não apenas decidir quando está na hora de desistir, mas também decidir do que você precisa desistir.

No início da faculdade de medicina, os alunos aprendem a fazer a triagem dos casos atendendo primeiro aos mais urgentes – ataque cardíaco antes que torção no tornozelo. Você pode adotar uma abordagem parecida para decidir do que desistir.

Uma de minhas pacientes – uma mulher de 30 anos – veio me consultar por causa de depressão e burnout. Ela tinha um trabalho estressante e participava de muitos comitês relacionados às atividades extracurriculares dos filhos.

Adotando a técnica da triagem, ela percebeu que sua responsabilidade mais urgente era sustentar financeiramente a família. E então percebeu que desistir de alguns dos comitês extracurriculares lhe permitiria encontrar mais equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Essa mudança possibilitou que ela ficasse menos exausta e mais presente emocionalmente nos momentos com os filhos.

Etapas para desistir

Para ensinar meus pacientes a desistir, costumo utilizar a fórmula do cientista BJ Fogg para mudança comportamental (C = MHP). Fogg sugere que, para que ocorra um novo comportamento (C), três coisas devem convergir: motivação (M), habilidade (H) e prompt (P, a maneira como o autor descreve uma espécie de estímulo ou gatilho).

Na minha prática clínica, descobri que geralmente é a falta de prompt para desencadear uma sensação de urgência que impede que meus pacientes desistam quando precisam. Ter um cronograma para desistir – seja um mês ou um ano – e cumpri-lo pode servir como um bom prompt. Aqui estão algumas etapas que você pode seguir:

  • Defina uma data para desistir
  • Até lá, mude as coisas que você pode controlar – como incorporar mais autocuidado à sua vida ou estabelecer limites na sua agenda – enquanto pondera os riscos versus os benefícios de desistir.
  • Planeje como será sua nova vida depois da desistência
  • À medida que a data se aproximar, dê-se permissão para seguir em frente, se necessário.

Desistir não precisa ser permanente

Em geral, pensamos que desistir é uma mudança permanente. Mas, dependendo do que você está desistindo, não precisa ser assim. Depois de desistir, pergunte-se como você está se sentindo na nova vida. Tente ganhar novas habilidades e aprender mais sobre você mesmo.

Alguns dos meus pacientes que abriram pequenos negócios e perceberam que não estavam prontos acabaram fechando as portas, mas voltaram a tentar anos depois, com grande sucesso. Outros se divorciaram e, em vez de desistirem completamente da ideia de casamento, voltaram a se casar e tiveram um segundo casamento duradouro.

Às vezes, desistir é necessário e pode ser encarado sem vergonha. Mas, como desistir pode levar a mudanças significativas na sua vida, não é uma decisão que possa ser tomada sem o devido cuidado. Com um pouco de reflexão e planejamento, você pode decidir se desistir é a opção certa para você.

Gregory Scott Brown é psiquiatra, escritor de saúde mental e autor de The Self-Healing Mind: An Essential Five-Step Practice for Overcoming Anxiety and Depression, and Revitalizing Your Life. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Pesquisadores identificaram uma área do DNA humano e de camundongo que desempenha um papel no controle da ansiedade.

A equipe da Universidade de Aberdeen encontrou uma seção de DNA que “liga” genes-chave em partes do cérebro que afetam os níveis de ansiedade em ratos. Eles descobriram que a remoção desse “interruptor” aumentou a ansiedade nos animais.

A equipe espera agora que mais pesquisas sobre a mudança possam ajudar a melhorar a vida dos pacientes ansiosos, identificando um novo alvo de medicamento.

Tanto os humanos como os ratos têm mecanismos genômicos semelhantes que controlam o humor e os investigadores disseram que o “interruptor” que descobriram faz parte destes mecanismos em ambas as espécies.

Créditos: Moyo Studio/istock

Detalhes da pesquisa

A pesquisa envolveu o uso da tecnologia de edição de genoma CRISPR, uma ferramenta revolucionária que permite aos cientistas modificar o DNA de maneira precisa e eficiente.

Para eliminar áreas específicas do genoma, a equipe concentrou-se num potenciador chamado BE5.1 que controla o gene BDNF.

Eles descobriram que a deleção de BE5.1 estava associada a um aumento nos níveis de ansiedade em camundongos fêmeas.

Os pesquisadores disseram que isso sugere que o BE5.1 é uma parte fundamental do complexo mecanismo do genoma do cérebro que modula a ansiedade.

Dr. Andrew McEwan, da universidade, disse: “Para compreender a base de doenças humanas complexas, que incluem doenças mentais e outras condições como obesidadedepressão e dependência, é tão importante compreender os mecanismos que garantem a produção adequada de proteínas nas células certas, assim como compreender as próprias proteínas.”

“Isto só será alcançado se compreendermos melhor o genoma não-codificante na saúde e na doença e a função e o papel dos milhares de interruptores genéticos enigmáticos que se escondem nas suas profundezas.”

A pesquisa foi publicada na revista Molecular Psychiatry.

De onde vem a ansiedade?

A ansiedade é uma resposta natural do corpo a situações de estresse, perigo ou incerteza. Ela é uma parte normal da experiência humana e pode ajudar a pessoa a lidar com desafios ou ameaças percebidas.

No entanto, quando a ansiedade se torna excessiva, persistente e interfere nas atividades diárias, pode ser um sinal de um transtorno de ansiedade.

As causas da ansiedade podem variar de pessoa para pessoa e geralmente envolvem uma combinação de fatores genéticos, biológicos, ambientais e psicológicos.

Algumas das principais causas e fatores de risco para o desenvolvimento da ansiedade incluem:

  • Genética: estudos mostram que a ansiedade pode ter uma base genética, com uma predisposição para transtornos de ansiedade correndo em famílias.
  • Alterações no cérebro: desequilíbrios químicos no cérebro, envolvendo neurotransmissores como serotonina, noradrenalina e GABA, podem desempenhar um papel no desenvolvimento da ansiedade.
  • Experiências de vida: traumas, estresse crônico, eventos traumáticos, abuso, conflitos familiares, problemas financeiros, perdas significativas ou grandes mudanças na vida podem contribuir para o desenvolvimento da ansiedade.
  • Fatores ambientais: fatores como exposição a substâncias tóxicas, poluição, condições de vida desfavoráveis, desigualdades sociais e eventos estressantes podem aumentar o risco de ansiedade.
  • Condições médicas: Certas condições médicas, como doenças cardíacas, hipertireoidismo, diabetes, problemas respiratórios, dores crônicas e condições neurológicas, podem estar associadas a sintomas de ansiedade.
  • Uso de substâncias: o abuso de substâncias como álcool, drogas ilícitas, cafeína e certos medicamentos pode desencadear ou piorar sintomas de ansiedade.

Fonte: Estadão

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