Lula foi o primeiro chefe de Estado a discursar no debate geral. Por tradição, cabe ao Brasil abrir os discursos no encontro anual dos líderes dos mais 190 países da ONU.
Lula compareceu à Assembleia Geral acompanhado da primeira-dama, Janja; dos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL); do ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira; e do assessor especial e ex-chanceler Celso Amorim.
Outros ministros que acompanham a viagem, como Marina Silva (Meio Ambiente) e Fernando Haddad (Fazenda), não puderam acompanhar as falas no plenário das Nações Unidas por limitações de espaço para cada delegação.
Veja abaixo os principais pontos do discurso de Lula:
- Palestina
O apoio à luta dos palestinos por um território próprio foi o primeiro tema citado por Lula, antes mesmo de iniciar formalmente o discurso.
“Dirijo-me em particular à delegação palestina que integra pela primeira vez essa sessão de abertura, mesmo que ainda na condição de membro observador”, disse Lula logo na abertura do discurso, saudando a presença do presidente da Palestina, Mahmoud Abbas.
- Crítica às guerras
Ao criticar a existência de conflitos simultâneos na Ucrânia e no Oriente Médio, Lula voltou a apontar a falta de instrumentos das Nações Unidas para interromper guerras ou punir envolvidos.
“Precisamos ir muito além e dotar a ONU dos meios necessários para enfrentar as mudanças vertiginosas do panorama internacional. Vivemos momento de crescentes angústias, tensões, frustrações e medo. Testemunhamos a alarmante escalada de disputas geopolíticas e rivalidade estratégicas”, disse.
“2023 ostenta o triste recorde do maior numero de conflitos desde a Segunda Guerra Mundial. Os gastos militares globais cresceram pelo nono ano consecutivo e atingiram mais de 2,4 trilhões de dólares. Esses recursos poderiam ter sido utilizados para combater a fome e enfrentar a mudança do clima”, prosseguiu.
“O uso da força sem amparo no direito internacional está se tornando a regra. Presenciamos dois conflitos simultâneos com potencial de se tornarem conflitos generalizados.”
- Crise climática
Ao abordar a crise climática global, Lula falou que não é possível “desplanetizar” a vida e comum – e que o planeta está “condenado à interdependência”.
“O planeta já não espera para cobrar da próxima geração, e está farto de acordos climáticos que não são cumpridos. Está cansado de metas de redução da emissão de carbono negligenciadas, do auxílio financeiro aos países pobres que nunca chega”, disse.
“O negacionismo sucumbe ante as evidências do aquecimento global, e 2024 caminha para ser o ano mais quente da história moderna”, afirmou, citando catástrofes ao redor do mundo.
“No Sul do Brasil, tivemos a maior enchente desde 1941. A Amazônia está atravessando a pior estiagem em 45 anos. Incêndios florestais se alastraram pelo país e já devoraram 5 milhões de hectares apenas no mês de agosto. O meu governo não terceiriza responsabilidades e nem abdica de sua soberania”, disse.
“É hora de enfrentar o debate sobre o ritmo lento da descarbonização do planeta e trabalhar por uma economia menos dependente de combustíveis fósseis”, completou.
- América Latina, Cuba e democracia
No discurso, Lula afirmou que a América vive desde 2014 uma “segunda década perdida” – com crescimento médio de apenas 0,9% ao ano, metade da chamada “década perdida” original nos anos 1980.
“Essa combinação de baixo crescimento e altos níveis de desigualdade resulta em efeitos nefastos sobre a paisagem política. Tragada por disputas muitas vezes alheias à região, nossa vocação de cooperação e entendimento se fragiliza.”
“É injustificável manter Cuba em uma lista unilateral de Estados que supostamente promovem terrorismo, e impor medidas coercitivas unilaterais que penalizam indevidamente as populações mais vulneráveis”, disse Lula, em crítica direta aos Estados Unidos.
“No Haiti, é inadiável conjugar ações para restaurar a ordem pública e o desenvolvimento. No Brasil, a defesa da democracia implica ação permanente ante investidas extremistas, messiânicas e totalitárias que espalham o ódio, a intolerância e o ressentimento”, listou.
- Inteligência artificial
Ao tratar do tema, Lula afirmou que as “assimetrias” e a “concentração sem precedentes” da tecnologia na mão de poucas empresas e poucos países são desafios a serem enfrentados.
“Interessa-nos uma inteligência artificial emancipadora, que também tenha a cara do Sul Global e fortaleça a
Prévia no domingo
Dois dias antes do discurso na Assembleia Geral, no domingo, Lula deu uma “prévia” de seus temas da viagem a Nova York na Cúpula do Futuro, também organizada pela ONU.
O presidente cobrou mais “ambição e ousadia” de seus pares e criticou o ritmo lento de adoção das metas de desenvolvimento sustentável da Agenda 2030 da ONU.
“Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável foram o maior empreendimento diplomático dos últimos anos, e caminham para se tornar o nosso maior fracasso coletivo. No ritmo atual de implementação, apenas 17% das metas da Agenda 2030 serão atingidas dentro do prazo”, disse.
Lula repetiu a defesa por mudanças em organismos internacionais, como o Conselho de Segurança da ONU, uma pauta que ele defende desde o primeiro mandato presidencial (2003-2006). O presidente entende que as estruturas atuais não representam a geopolítica atual.
“A maioria dos órgãos carece de autoridade e meios de implementação para fazer cumprir suas decisões. A Assembleia Geral perdeu sua vitalidade e o Conselho Econômico e Social foi esvaziado. A legitimidade do Conselho de Segurança encolhe a cada vez que aplica duplos padrões ou se omite diante de atrocidades”, citou.
Combate à fome e à desigualdade, governança global, reforma do Conselho de Segurança da ONU e mudanças climáticas são temas recorrentes nos discursos de Lula.
As mudanças climáticas são abordadas pelo petista pelo menos desde 2004 e foram citadas em 2023, quando o presidente voltou a cobrar o financiamento, pelos países ricos, de ações para a preservação do meio ambiente nas nações emergentes.
Em 2023, Lula criticou o neoliberalismo e o surgimento de “aventureiros de extrema-direita que negam a política e vendem soluções tão fáceis quanto equivocadas”, mas sem especificar a quem estava se referindo. Neste ano, há expectativa de menções à governos autoritários de esquerda, a exemplo da Venezuela.
Fonte: G1