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Localizado no coração da Cidade Alta, o Memorial Câmara Cascudo foi alvo novamente de arrombamento e depredação. O prédio histórico foi invadido na madrugada de domingo para segunda, sofrendo danos em sua estrutura, e em especial na sala dedicada à Comissão Norte-rio-grandense de Folclore, onde havia acervo guardado. O atual estado de abandono da instituição pública já vem sendo discutido e denunciado há algum tempo.

O Ludovicus – Instituto Câmara Cascudo e os familiares do folclorista e escritor criticaram, em nota, o abandono do Memorial. De acordo com o pronunciamento, o local está sendo alvo constante de ações criminosas. Diante disso, o Instituto cobrou que o Governo do Estado tome providências para minimizar os danos físicos do prédio.

Para o instituto, a situação é deplorável. “Cobramos a adoção de medidas urgentes por parte do Governo do Estado do RN, Fundação José Augusto e Secretaria de Cultura do Estado, no sentido de garantir a segurança, integridade e o funcionamento adequado desta instituição, de maneira a honrar o nome do seu patrono, que tanto amou e engrandeceu este estado”, disse.

Não só o Memorial está sofrendo com vandalismo, como também o entorno. Em outubro, parte dos bancos de sua praça foram quebrados e danificados. Na época, a reportagem da TRIBUNA DO NORTE procurou a área técnica da Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional do RN (Iphan), que disse “não ter recebido denúncias referentes a suposto ato de vandalismo na praça localizada nas imediações do Memorial”.

Daliana Cascudo, neta de Câmara Cascudo, foi diretora do Memorial por 28 anos, de 1987 a 2015. Ela lembra que há seis meses o prédio já havia sofrido o roubo de sua fiação elétrica. “A gente, que faz parte da comissão de folclore, ficou sem energia para as reuniões. Depois disso tivemos receio de voltar. E agora houve essa invasão que causou ainda mais danos ao nosso acervo”, diz. O resto do acervo foi levado para casa de Gutenberg Costa, presidente da comissão.

Segundo Daliana, o Memorial se tornou um espaço subutilizado. “A gente já chegou a sugerir ações conjuntas entre o Ludovicus e o Memorial, pois temos um patrono em comum, mas parece não haver interesse”, lamenta. “É triste a situação, pois muita coisa na área de turismo cultural, por exemplo, deixa de ser feita na cidade quando um equipamento importante como esse é deixado de lado”, afirma.

O Memorial Câmara Cascudo foi criado em 1987, mas a história de seu prédio é muito mais antiga. A construção remete ao século XVIII, período em que foi sede do real erário colonial, e posteriormente a tesouraria da fazenda real. Em 1875 o prédio foi reconstruído e ganhou sua aparência atual. Na República, a partir de 1922, funcionou nele a Delegacia Fiscal. De 1955 a 1977 foi sede do Quartel General da 7ª Região Militar em Natal.

O palacete de fachada em estilo neoclássico foi tombado em 24 de agosto de 1989 pelo Patrimônio Histórico do Estado. Em 2018 foi restaurado com financiamento do Banco Mundial. Há anos o Memorial está sem um acervo exposto.

Em nota, a Fundação José Augusto lamentou a depredação do espaço do Memorial Câmara Cascudo. De acordo com a Fundação, foram tomadas providências para que os responsáveis pela depredação sejam identificados e punidos. Além disso, a Fundação José Augusto afirmou que “os danos ao acervo e à infraestrutura do Memorial Câmara Cascudo serão rigorosamente avaliados e reparados”. A nota não menciona prazos ou ações concretas para melhorar a estrutura do equipamento.

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