Mapeamento feito pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), no Rio Grande do Norte aponta um crescimento de 183% na quantidade de municípios com presença de startups. Elas já estão em Natal e mais 16 municípios potiguares. Em último mapeamento feito pelo Sebrae, das 2.919 startups no Nordeste, o Rio Grande do Norte ficou em segundo lugar com 742 startups, perdendo apenas para Pernambuco, que possui 759.

Em 2020, o Sebrae identificou startups registradas nos municípios de Natal, Mossoró, Currais Novos, Parnamirim, São José do Mipibu e Touros, além dos seis previamente registrados. Em 2023, novo mapeamento constatou empresas em outros 11 municípios, que são Caicó, Pau dos Ferros, Macaíba, Assu, Alto do Rodrigues, Angicos, Carnaúba dos Dantas, Extremoz, Itajaí, Lagoa Nova e São Gonçalo do Amarante. Em 2008, Natal detinha 90,9% do total de empresas mapeadas pelo Sebrae, sendo que esse percentual reduziu para 76,6% em 2023, reflexo da maior presença das startups no interior do Estado.

Apesar do crescimento do número de municípios com a presença de startups, há cidades em que a quantidade de empresas reduziu no período entre os mapeamentos realizados. É o caso de Currais Novos, que teve o seu percentual de empresas mapeadas reduzido de 9,4% em 2020, para 4,1% em 2023. A redução também aconteceu em Mossoró, que foi de 6,84% em 2020, para 6,5% em 2023, mas em 2008, o município tinha 1,8% das empresas catalogadas no ano.

No ano de 2022, Juliana Souza viu na necessidade do seu amigo empresário uma oportunidade de fazer a diferença no comércio farmacêutico. “Percebi que a atualização de estoque era um problema recorrente não apenas na farmácia do meu amigo, como também de outras de diversos tamanhos. Era necessária uma mão de obra constante nos estabelecimentos na atualização de planilhas e contratos com distribuidoras, para que fosse garantido que houvesse o devido abastecimento dos produtos”, explica Juliana, que em Carnaúba dos Dantas iniciou a sua startup voltada para o auxílio na cotação de produtos farmacêuticos.

Assistindo a dificuldade do amigo no gerenciamento do estabelecimento e suas demandas burocráticas, Juliana juntou-se ao amigo, então sócio, para desenvolver um software que facilitasse o dia a dia dos empreendedores. “Em 2023 nós tivemos a ajuda do Sebrae para desenvolver a plataforma, onde eles financiaram 70% dos custos. Logo no início o software foi disponibilizado para as 15 farmácias que o meu sócio prestava consultoria, mas hoje temos ela sendo utilizada ainda na versão teste por outras 35 empresas, distribuídas por 6 estados, que são Rio Grande do Norte, Paraíba, Ceará, Pernambuco, Bahia e Goiás”, conta Juliana.

A empreendedora pretende levar a CotaFarma para um número maior de empresas, mas a limitação técnica da plataforma lhe impede de realizar o seu desejo. “Pretendemos desenvolver uma nova versão que possa atender a mais de 100 clientes, mas para isso precisamos de novo financiamento, pois custa mais de R$100 mil para realizar essa etapa do projeto”, explica.

Juliana confessa perceber que, por mais que exista uma boa quantidade de editais, ainda percebe que eles não são tão direcionados para as startups iniciadas no interior do estado. “Nós dependemos dos financiamentos dos editais, então seria ideal que eles tivessem um percentual voltado para nos beneficiar, pois do jeito que eles funcionam, nós concorremos com as ideias da capital também”, relata Juliana.

Neuroengenharia
Já para Fabrício Brasil, o desejo de empreender veio a partir da necessidade de ver os frutos da sua pesquisa serem levados ao público. Com a startup iniciada em Macaíba, o pesquisador da área de neuroengenharia atua em pesquisas voltadas para a compreensão neurotransmissora de pessoas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) desde 2015, e viu no empreender a oportunidade de desenvolver os aparelhos planejados pelos seus estudos.

“A ideia foi criar uma startup para levar o que a gente faz na pesquisa para o público, ou seja, para centros de pesquisa, e assim possibilitar que mais pacientes tivessem acesso aos benefícios do que a gente faz nos estudos”, conta o empreendedor da Stimully. O pesquisador conta que a partir de seus estudos foram desenvolvidos aparelhos capazes de analisar e diferenciar a neurotransmissão de crianças com e sem autismo, sendo ponto de partida crucial no diagnóstico e tratamento destas crianças.

“Depois que desenvolvemos a startup, e então, nossos aparelhos, planos de saúde e empresas médicas tomaram conhecimento do nosso trabalho e buscam ter os nossos produtos para utilizarem em seus estabelecimentos. Mas ainda são aparelhos de custo de produção muito alto, cerca de R$90 mil cada”, explica Fabrício.

Em 2021, a Stimully foi inscrita no edital da Global Grad Show, onde foi considerada um dos onze projetos de maior impacto social no mundo, conseguindo, desde então, investimentos de outros dois editais. Hoje a Stimully segue no mesmo desafio de tantas outras startups: a necessidade de editais que contemplem eles. “Só através dos investimentos dos editais é que nós poderemos reduzir os custos dos nossos produtos, e tornar os equipamentos acessíveis para um número maior de pessoas, pois esse é o nosso objetivo”, explica o neuroengenheiro.

“Hoje uma pessoa com autismo ela custa, no Rio de Janeiro, até R$ 54 mil por mês. E isso só de intervenção. E o que nós queremos cobrar é uma fração disso, é um valor muito simbólico. Para que realmente nós consigamos ajudar o maior número de pessoas que tenham ou não tenham um plano de saúde, mas que seja um negócio acessível para população”, conclui Fabrício.

Sebrae fomenta evolução de startups no interior do Estado

David Góis, do Sebrae, aponta os ELIs como agente potencializador da interiorização das startups – Foto: Alex Régis

Entendendo o potencial inovador do Rio Grande do Norte, o Sebrae percebe a importância do entendimento e investimento nos Ecossistemas Locais de Inovação (ELIs) no interior do Estado, e vê neles o ponto principal para fomentar as ideias e novos empreendedores potiguares.


“A interiorização das startups foi potencializada pelas ações de conjunto dos ecossistemas e incubadoras, como institutos federais e universidades”, conta David Góis, gerente da unidade de Negócios, Inovação e Tecnologia do Sebrae. “O ecossistema é uma metodologia aplicada em cada município ou território, e tem como objetivo o envolvimento dos atores locais, como empresários e instituições de ensino, para que a partir dessa reunião possa ser feita uma análise dos setores prioritários daquele município. E é a partir dessa análise que se tem o entendimento da área e é realizado um planejamento integrado, onde todos os atores se comprometem a executar esse planejamento”, explica David. O objetivo dos ecossistemas é impulsionar o desenvolvimento econômico da região, através do entendimento sistêmico do potencial inovador da área.

O diretor conta que os ecossistemas são desenvolvidos no Rio Grande do Norte desde o ano de 2020, tendo eles hoje presentes nos municípios de Natal, Mossoró, Caicó, Currais Novos, Pau dos Ferros e Assu. David também explica que é através do desenvolvimento e proximidade dos ecossistemas com os projetos de inovação que os novos empreendedores adquirem maiores possibilidades de terem os seus projetos aprovados em editais de incentivo e inovação – forma a qual eles adquirem o suporte e incentivo financeiro para verem os seus projetos se concretizarem.

“É graças ao trabalho dos ecossistemas e ao seu trabalho integrado que vemos cada vez mais startups se desenvolvendo em municípios do interior do estado. Ficamos muito felizes em ver startups se desenvolvendo no interior e trabalhando os seus projetos e produtos para além do Estado e até mesmo do país”, declara. Entre 2020 e 2023, foi registrado um aumento de 15,61% no número de startups no interior do Estado.

Entre o ano de 2022 e 2023, o Nordeste passou a representar de 11% a 23% das startups brasileiras. O diretor percebe que o aumento significativo se dá devido a presença de editais regionais, bem como o surgimento de novas oportunidades de desenvolvimento através dos ecossistemas locais. “Como está tudo conectado e integrado, as informações chegam mais rápido e de forma muito mais estruturada nos municípios do interior”, conta David.

Decola RN vai selecionar 25 novos projetos de startups

Foi pensando no fomento à abertura de novas startups no estado que o Parque Tecnológico Metrópole Digital (Metrópole Parque) lançou o programa Decola RN. Na sua primeira prospecção, foram 94 projetos inscritos, oriundos de 12 municípios, como Currais Novos, Mossoró, Natal, Parnamirim, Pau dos Ferros, Caicó. Na próxima quarta-feira (3), 25 iniciativas mapeadas serão selecionadas para receber acompanhamentos de tutores, que auxiliarão no desenvolvimento dos negócios.


O diretor do Metrópole Parque, Rodrigo Romão, explica que os projetos serão trabalhados durante 14 semanas dentro de “laboratórios de aprendizagem”, dentro dos quais a metodologia trabalhada será através do entendimento aprofundado do potencial da ideia, avaliando a viabilidade do projeto a ser desenvolvido nas áreas de agronegócio, saúde, educação, impacto social e tecnologia.

By Nocast