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Com direito a discurso em rede nacional, o ministro Fernando Haddad anunciou o tão aguardado, principalmente pelo mercado, pacote de corte de gastos do governo — acompanhado de uma medida que não era esperada.

A expectativa era grande, já que o plano foi adiado sucessivas vezes depois da equipe econômica garantir que ele seria lançado logo após as eleições municipais.

A relevância: O governo Lula tem prometido o “déficit zero” desde o início do seu mandato, mas tem gastado mais do que arrecada — mesmo aumentando impostos e tendo arrecadação recorde. Há um tempo, um corte bilionário era esperado para se aproximar desse equilíbrio.

By the numbers, a previsão de fechar o ano com as contas no azul ficou mais distante e, com os gastos públicos subindo, a previsão para este ano é um rombo de R$ 63 bi. Por isso a pressão para vir um corte de gastos…

Tá, mas quais foram as propostas? ✂️
Limitação do crescimento do salário mínimo: O ajuste anual do salário mínimo fica limitado a ser de, no máximo, 2,5% ao ano acima da inflação.

Combate aos Supersalários: Medidas para garantir que nenhum servidor público ganhe além do previsto no teto — cerca de R$ 44 mil hoje.

Aposentadoria dos militares: Determinar uma idade mínima para a reserva e limite de transferência de pensão, para tornar a previdência militar sustentável.

Restrição ao abono salarial: A faixa do benefício do abono salarial vai reduzir gradualmente pela inflação, até passar a contemplar somente quem recebe 1,5 salário mínimo — e não mais 2 salários mínimos.

Limitação das emendas parlamentares: Crescimento das emendas limitado a 2,5% acima da inflação; além disso, 50% das emendas de comissões terão que ser voltadas para a saúde pública.

Taxação dos ricos: Quem recebe mais de R$ 50 mil por mês vai passar a ser taxado mesmo recebendo por dividendos, que hoje dá isenção de tributação. Apesar de não ser oficial, já está se falando em uma alíquota de 10%.

A estimativa do governo é que o pacote gere uma economia de R$ 30 bilhões a R$ 40 bilhões por ano. Nos próximos dois anos, os analistas mais otimistas dizem que a redução de despesas pode chegar a R$ 70 bi.

⚠️ Disclaimer: Todas essas medidas ainda dependem da aprovação do Congresso para começarem a valer. Não à toa, Lula e Haddad receberam pessoalmente os presidentes da Câmara e do Senado.

Mas a grande polêmica está aqui… 💵
Enquanto o mercado esperava o pacote de cortes, o governo pegou todo mundo de surpresa no meio da tarde quando chegou a notícia de que um aumento na faixa de isenção do Imposto de Renda também seria anunciado.

Aprofundando: Hoje, quem ganha no máximo R$ 2.824 por mês não precisa pagar o Imposto de Renda. Acontece que, durante toda a campanha, Lula prometeu que iria elevar a isenção para até R$ 5.000.

Foi isso que Haddad contou para o país todo ontem à noite — deixando o mercado de cabelo em pé. Pense que, ao aumentar a faixa de isenção, menos pessoas vão pagar o IR, logo, o governo vai arrecadar menos.

Pegou o contraste? No mesmo dia, o governo anunciou um pacote de corte de gastos e uma medida de redução de receita. É como se você tivesse ido na nutricionista, montado uma dieta saudável e logo depois do alface comesse um bolo.

A isenção do IR até R$ 5 mil pode beneficiar 36M de brasileiros — ou 78% de quem paga o imposto —, gerando um impacto de queda de R$ 35 bi de arrecadação. Para compensar, o governo deve taxar quem ganha acima de R$ 1 milhão/ano.

📈 A reação: Dólar nas alturas
Como resultado dessas desconfianças com a política fiscal, a moeda americana fechou o dia de ontem cotada no maior valor da história do nosso país: US$ 1 = R$ 5,91.

PS: Com os rumores ontem à tarde, o dólar disparou e o Ibovespa caiu, fazendo Haddad até ter pensado em desistir de transmitir o anúncio em rede nacional — que ele já tinha gravado mais cedo.

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